Como ajudar alguém a mudar comportamentos para ver uma vida mais saudável?

Frequentemente, nos preocupamos com pessoas à nossa volta para que elas também tenham hábitos de vida saudáveis. A motivação é um componente essencial para que as pessoas possam iniciar e manter comportamentos saudáveis ou evitar o que é nocivo, pois a motivação indica o compromisso com o comportamento desejável ou a probabilidade de que a pessoa realmente inicie e mantenha este comportamento(1-2).

Neste material estão apresentadas algumas recomendações de como podemos ajudar as pessoas para que estejam motivadas e comprometidas com comportamentos mais saudáveis. Essas recomendações estão fundamentadas na “Entrevista Motivacional”, um estilo de aconselhamento centrado nas necessidades e preferências da pessoa e que respeita sua autonomia e liberdade. Essa abordagem é útil para situações nas quais a mudança de comportamento não é urgente. Este material não tem por objetivo esgotar o assunto, mas apresentar uma síntese de recomendações para iniciantes(1-2).

Atualmente, nossa saúde e bem-estar estão muito associadas aos tipos de comportamentos que temos em nosso cotidiano. Nosso estilo de vida será mais saudável de acordo com hábitos de sono, alimentação, lazer, atividade física, qualidade de nossos relacionamentos, adesão a tratamentos e de acordo com aquilo que evitamos, como é o caso de comportamentos de risco, consumo de tabaco, álcool em excesso outras substâncias de risco(1-2).

Uma das primeiras coisas que precisamos saber ao abordar a motivação é que ela pode mudar ao longo do tempo. A depender da motivação de uma pessoa, a abordagem será diferente, como é possível acompanhar no esquema a seguir(1-2):

1- Quando a pessoa não percebe o comportamento como um problema e não quer mudar: Temos que controlar a “pressa de consertar as coisas” e respeitar o ritmo da pessoa, estabelecer um relacionamento de aceitação e confiança, buscar compreender (não significa concordar com) o ponto de vista da pessoa, suas necessidades, valores e identificar resistências (o que ele evita, discorda ou não quer conversar) e evitar aumentá-las. É importante deixar claro que está aberto(a) para falar sobre o problema e mudança quando a pessoa achar necessário.

2- Quando a pessoa está ambivalente (dividida, em conflito ou dúvida sobre mudar ou não): Devemos assumir que ficar em dúvida (ou ambivalente) é normal, aceitável e compreensível. Podemos incentivar a pessoa a analisar os aspectos positivos, negativos e consequências do comportamento (a ser iniciado ou evitado); estimular a pessoa a expressar suas razões pessoais para mudar e a identificar barreiras ou soluções que interferem na mudança. A própria pessoa deve expressar o que é importante para ela para que a mudança de comportamento lhe faça sentido.

3- Quando a pessoa está motivada (compromissada) para iniciar a mudança: Você pode oferecer feedback para estimular a pessoa a se responsabilizar pela sua mudança e a elaborar um plano específico com objetivos atingíveis e as ações a serem escolhidas (por quais motivos, como, quando, onde e de que forma ela quer e pode mudar? Quais são suas opções?). Também é interessante graduar a importância da mudança (ex.: O quanto essa mudança é importante para você? Se você precisasse dar uma nota de 0 a 10, quanto daria?) e graduar o quanto a pessoa se sente preparada para a mudança: (ex.: De 0 a 10 o quanto você se sente preparado para iniciar essa mudança? O que falta para chegar ao 10? O que falta para que você consiga…?). Nesta situação, você também pode ajudar a pessoa a encontrar alternativas e fontes de apoio.

4- Quando a pessoa mantém um comportamento desejável (iniciou comportamento saudável ou interrompeu hábito nocivo): Você pode oferecer feedback, apoiar e estimular a pessoa para que ela mantenha o comportamento saudável. Você pode escutá-la e reconhecer a evolução dela (reconhecimento dos benefícios conquistados), demonstrar apreciação e empatia e compreensão.

5- Quando uma pessoa recai (volta a estado anterior após ter iniciado e mantido a mudança/ comportamento desejável): Você pode acolher a pessoa, respeitar o momento dela, deixar que ela expresse seus sentimentos (ex. culpa e fracasso), propiciar momentos de reflexão sobre sua situação (sem julgamentos) e favorecer o aprendizado com a experiência e o recomeço de forma mais consciente.

Em todas essas situações, é útil escutar de forma ativa (buscando entender o que foi ouvido), aceitar a postura da pessoa (sem julgamento, “lições de moral” ou crítica), pedir que a pessoa descreva suas preocupações e resumir as principais ideias da pessoa (o que favorece a reflexão e organização das ideias) (1-2).

Finalmente, é importante respeitar a autonomia e liberdade de escolha da pessoa e saber que sua motivação pode mudar (para melhor ou pior), assim, a motivação deve ser alimentada pela escuta, acolhimento, inventivo e apoio.

Kelly Graziani Giacchero Vedana

Referências

1- Rollnick S, Miller WR, Butler C. Motivational interviewing in health care: helping patients change behavior. The Guilford Press: London, 2008.

2- Jungerman FS, Laranjeira, R. Entrevista motivacional: bases teóricas e práticas. J. Bras. Psiquiatr; 48(5):197-207, 1999.

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