Autolesão não suicida

Provavelmente você já ouviu, assistiu ou ficou sabendo sobre algum caso real ou fictício ligado à autolesão não suicida, mais conhecida como automutilação. Esse comportamento é mais comum na adolescência, mas afinal, o que é autolesão não suicida? E como podemos ajudar alguém com esse comportamento?


Compreendendo a autolesão não suicida (ou automutilação):

A autolesão não suicida é uma violência dirigida a si mesmo(a), proposital e que não é socialmente aceita (então exclui tatuagem e bodypiercing).

Perceba que essa autolesão é caracterizada como “não suicida” porque é um tipo de violência sem intenção consciente de causar a morte. Ela não é uma “falsa” tentativa de suicídio, pois geralmente tem um objetivo diferente: o de obter alívio de sentimentos ruins.  Apesar disso, uma pessoa com autolesão pode vir a ter pensamentos suicidas e, na verdade, a autolesão é um fator de risco importante para o suicídio (1).

O objetivo mais comum da autolesão não suicida é o gerenciamento de emoções, o que indica a existência de algum problema ou emoção que o adolescente não consegue gerir. Dessa forma, ao identificar a autolesão não suicida é importante focalizar as emoções e situações e clarificar a oferta de suporte sincero.

A autolesão não suicida é multifatorial, ou seja, existem vários fatores de risco ligados a esse comportamento. Entre estão fatores psicológicos individuais (impulsividade, baixa autoestima, insegurança, dificuldade na regulação de respostas emocionais, distorções da imagem corporal), sociais (acesso a informação irresponsável e romantizada sobre o comportamento, bullying, cyberbullying, influência de pessoas que se autolesionam, como ídolos teen ou pessoas próximas), vivências traumáticas na infância e relações familiares (negligência, violência sexual, psicológica ou física, relações familiares disfuncionais, ausência de um dos pais, histórico de suicídio e uso abuso de álcool e drogas na família, entre outros).

Como (e por que) ajudar alguém com autolesão não suicida…

É importante entender que a autolesão não suicida é um comportamento dependente, ou seja, a pessoa pode precisar cada vez mais desse ato para obter alívio. Ela pode pensar constantemente na autolesão, ter dificuldade de controlar e recorrer com frequência a esse comportamento. Nesse sentido, quanto antes a pessoa tiver auxílio, melhor…

A autolesão não suicida expressa a existência de sofrimentos emocionais importantes, verdadeiros e que precisam de cuidado.  É importante não desqualificar o sofrimento de alguém, afinal, como diria Caetano Veloso “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” (2). É importante oferecer apoio e também procurar ajuda (com mais pessoas próximas e serviços de saúde).

A autolesão não é o recurso saudável ou recomendável para resolução de problemas, por isso é importante ajudar a pessoa com esse comportamento a ampliar suas habilidades emocionais, capacidade de resoluções de problemas, além de conhecer e, se possível, prevenir os estressores que podem estar ligados a esse comportamento (como violência, situações de abuso, luto, entre outras)(3).

Em muitos casos de autolesão, existe o compartilhamento de lâminas (ou outro material perfuro-cortante), o que está associado a disseminação de doenças infectocontagiosas. Dessa forma, é importante desencorajar o compartilhamento dos métodos de autolesão não suicida(3).

A autolesão pode gerar conflitos, preocupações, sofrimentos e sentimentos variados entre pessoas próximas de uma pessoa que se lesiona. Não é fácil saber que alguém querido está se machucando. Alguns sentimentos como culpa, raiva ou descrédito podem surgir. É acolher, escutar (sem julgamentos) e amparar quem está próximo de alguém que se autolesiona. Ao serem compreendidos, escutados e acolhidos, essas pessoas podem se sentir mais preparadas para fazer o mesmo…

E aproveitando que estamos falando de apoio, é importante lembrar que é muito difícil lidar ou se responsabilizar sozinho por alguém que sofre ou está em risco. E para isso é importante identificar uma rede de apoio, ou seja, mais pessoas que podem ajudar, família e amigos, serviços de saúde, linhas de ajuda (Centro de Valorização da Vida – CVV), outros serviços da comunidade (igreja, escolas, esportes e lazer, entre outros) para oferecer suporte e acompanhamento adequado para a pessoa em sofrimento.

E retomando nossa pergunta inicial “como podemos colaborar para prevenção do comportamento? ”. Convidamos você, principalmente, a buscar refletir, agir sem julgamentos, acolher, respeitar a diversidade, conversar e compartilhar esses conhecimentos. Como diria Guimarães Rosa “só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura” (4).

Se você está passando por autolesão não suicida, peça ajuda… Se você conhece alguém com autolesão ofereça apoio e ajude a pessoa a procurar ajuda profissional. #automutilacaonaoefrescura #inspiracaoleps

Compartilhem o trabalho do CVV (Centro de Valorização da Vida), oferece apoio emocional, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas, todos os dias. O número do telefone é 188.

Para mais informações, clique aqui: https://www.cvv.org.br/.

Fonte: Anna Cunha @anna_cunha

Referências:

1. American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental

Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric

Association, 2013.

2. Veloso, C. Dom de iludir in: Totalmente Demais. Polygram, 1986.

3. Costa J dos S, Silva AC, Vedana KGG. Postagens sobre autolesão não suicida

na internet. Adolesc Saúde. 2019;16(1):7–12.

4. Rosa, JG. Grande sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

Originalmente publicado em 1956.

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