Comportamento suicida em Policiais

O comportamento suicida é um complexo desafio para saúde pública e de largas proporções, repercutindo na qualidade de vida de quem é afetado, bem como daqueles que de algum modo, se sensibilizam. É representado como um dos comportamentos humanos mais enigmáticos e, por isso mesmo perturbador, causando grande questionamento, curiosidade e inquietação. Pode ser definido como um conjunto de eventos que variam desde ideias/pensamentos, até ações direcionadas para o autoextermínio humano, e que segundo Costa¹, é considerado um recurso desesperado para libertação de um sofrimento descrito como insuportável, que em alguns casos, ocorre quando já foram utilizadas todas as estratégias conhecidas por si, para comunicar a tristeza e outros sentimentos melancólicos.

É de suma importância que todos compreendam que o comportamento suicida atinge diferentes sexos e gêneros, grupos etários, classes sociais e que possui estreitas relações com a natureza das atividades desempenhadas no dia a dia cuja exposição a elementos externos como o manuseio de determinados produtos ou dispositivos com algum grau de letalidade ou toxicidade, bem como fatores socioambientais, podem aumentar a chance de autolesão e automorte.

Profissões com alta carga de stress apresentam risco particularmente elevado para o desenvolvimento de comportamento suicida², como é o caso dos policiais que, de um modo geral, possuem a função de garantir, com dedicação e risco da própria vida, a ordem, a paz pública, o patrimônio dos cidadãos comuns e os bens e serviços da nação, condutas que potencializam o sofrimento mental e propiciam o desenvolvimento de psicopatologias como ansiedade, depressão e síndrome do pânico.

A representação social de um agente com funções “heroicas” em decorrência da alta responsabilidade que a farda impõe a esses profissionais exige uma permanente força emocional e de sobrevivência sobre-humana para lidar com as adversidades diárias, dificultando o exercício de autoconhecimento de seus próprios limites físicos e mentais reduzindo a autopercepção para busca de serviços de atenção a saúde mental. Associado a responsabilidade “heroica” do policial, a profissão dispõe de outros elementos do cotidiano de seu trabalho que merecem atenção como é o caso do (indispensável) manuseio de armas de fogo, acesso a ambientes insalubres, violentos e de constante necessidade de alerta e vigília, fatores que potencializam o stress e consequentemente uma maior sobrecarga psicológica.

Se a divulgação de estatísticas confiáveis em torno do comportamento suicida já representa um enorme desafio em decorrência do tabu em torno do assunto, seja pelo pouco espaço reservado nos sistemas de informação da saúde pública, bem como procedimentos diagnósticos pouco específicos, discutir esse tema nas organizações policiais é ainda mais difícil pois muitos registros de suicídio infelizmente ainda não são informados pelas corporações, possivelmente pela representação ainda estereotipada e carregada de desinformação interna e externamente a esses espaços acerca da saúde mental que parece ameaçar a imagem desses profissionais que tendem a inibir expressões sentimentais de qualquer natureza, no intuito a blindar sua imagem de “agente sobre-humano” que deve ser socialmente esvaziado de emoções e que por conseguinte dispensam cuidados ligados as esferas mais subjetivas de sua saúde. Para termos uma noção, em muitos Estados brasileiros, as famílias dos policiais perdem direitos caso a morte seja por suicídio³ e muitos casos registrados como mortes de policiais em acidentes são, podem ser na verdade, suicídios disfarçados.

A literatura relata que a categoria de profissionais policiais como um grupo de alto risco de morte por suicídio. Segundo Miranda³, os dados indicam que a taxa de suicídio entre Policiais Militares é 3,65 vezes a da população masculina e 7,2 vezes a da população em geral. A taxa de sofrimento psíquico revelada pela pesquisa (transformada em livro e referenciada nessa matéria), foi de 33,6% na PM e 20,3% na Polícia Civil.

É urgente o desenvolvimento de mais estudos de campo em organizações policiais em diferentes contextos com o objetivo de contribuir não somente para modernização das organizações e do trabalho, como também fornecer subsídios para a formulação de políticas de prevenção e acolhimento de profissionais de segurança pública de um modo geral, que se configuram enquanto grupo com importante exposição para desenvolvimento do comportamento suicida.

Viver em sociedade exige cooperação e desse modo, a preservação da vida é de responsabilidade de TODOS. Procure ficar atento e saber agir em situações suspeitas como:

  • Ter uma postura acolhedora e escutar a pessoa que está em risco de suicídio;
  • Sempre levar a sério a ameaça de suicídio;
  • Não deixar a pessoa sozinha;
  • Solicitar ajuda de algum profissional de saúde;
  • No momento de crise, o policial deve ser retirado da atividade fim e deve ficar desarmado até que ele seja avaliado pelo psicólogo ou pelo psiquiatra;
  • A tropa deve ser incentivada a se unir e acolher o policial que está em crise.
  • A rejeição, a crítica, o preconceito tendem a vulnerabilizar ainda mais a pessoa que está em sofrimento.


Saulo Sacramento Meira

Disponível em: http://twixar.me/8js1


Referências:



1. Costa, IANC. Adolescência: Ideação suicida, depressão, desesperança e memórias autobiográficas. Portugal. 2012. Dissertação [Mestrado em Psicologia Clínica] – ISPA – Instituto Universitário das Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida; 2012.

2. Miranda, D. Por que policiais se matam? Mórula; 2016.

3. Maranhão MM, Silva DJ. O suicídio de policiais militares no Brasil. Biblioteca Digital de Segurança Pública. 2018. Link: http://twixar.me/VfP1


Sugestões de materiais: materiais ou links que possam agregar o conhecimento do tema abordado na postagem:



Artigo: Maranhão MM, Silva DJ. O suicídio de policiais militares no Brasil. Biblioteca Digital de Segurança Pública. 2018. Link: http://twixar.me/VnP1


Livro: Miranda D. Por que policiais se matam? Mórula; 2016.

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