Qual seu estilo parental?

Já reparou como temos dúvidas sobre a melhor forma de educar nossos filhos nos dias de hoje? Se você tem filhos certamente já recebeu alguma crítica com relação a isso ou alguma comparação, principalmente entre o modo como educamos hoje e o modo como nossos pais nos educaram, sendo que na equação final estamos sempre perdendo, devendo e fazendo errado. São comentários comuns: “antigamente o pai olhava e o filho parava e obedecia”; “criança não tem querer”; “se continuar assim essa criança vai mandar em você”; “se eu fizesse isso ou respondesse assim para meus pais já teria apanhado para aprender a respeitá-los”. Você deve ter um tanto de outros exemplos para acrescentar nessa lista não é mesmo?

Pois bem. O ponto central dessa questão é que o mundo mudou. Educar em um mundo digital, no qual crianças e adolescentes têm acesso desde muito cedo às mídias sociais, informações sem limites pode ser muito desafiador. Estamos sendo pioneiros em educar a “nova geração” e precisamos aprender ferramentas novas para isso.

Você já parou para pensar na sua forma de educar seus filhos? Jane Nelsen, pesquisadora e psicóloga norte americana, criou uma abordagem tanto filosófica quanto prática para educarmos nossos filhos entre o autoritarismo e a permissividade, que ficou conhecida como Disciplina Positiva. É um modelo educativo que reuni uma postura gentil e firme ao mesmo tempo para ensinarmos competências e habilidades de vida para nossos filhos a longo prazo. A autora nos mostra que há 4 estilos parentais (modos como educamos e interagimos com nossos filhos); veja se consegue se identificar com algum deles!

1. Autoritarismo: são os pais controladores, rígidos, que acreditam que se não fizerem seus filhos fazerem as coisas para seu próprio bem, estão sendo pais permissivos. Acabam fazendo uso da punição ou de recompensas para controlar os filhos e desconsideram os resultados a longo prazo da utilização desses métodos. São frases comuns de pais com esse estilo parental: “você vai fazer isso porque eu mando aqui” ou “essas são as regras que você deve seguir e essas são as punições que você irá receber por violar as regras”. Se você tem esse estilo parental deve ter observado como é cansativo manter tudo e todos sob controle não é mesmo?

2. Permissividade: é o estilo superprotetor, salvador, é a liberdade sem ordem e escolhas ilimitadas. Esse estilo parental faz com que os pais sintam que fizeram seu papel porque protegeram ou resgataram seus filhos da dor ou do sofrimento. São frases comuns: “Você decide” ou “ Faça o que quiser”.

3. Negligência: negligenciar é desistir da parentalidade, é um distanciamento e indisponibilidade emocional para os filhos que eles mal sabem que você está por perto, é uma ausência constante e pode ser resultado de um desespero do tipo “não importa o que eu faça, nunca dará certo ou essa criança nunca vai mudar, então é melhor não fazer nada”. É quando você simplesmente ignora o comportamento do seu filho esperando que ele desapareça sozinho.

4. Disciplina Positiva: a parentalidade baseada na Disciplina Positiva é uma forma de educar de maneira gentil e firme, é quando você está mais interessado em resultados a longo prazo com seus filhos que simplesmente interrromper um mau comportamento agora (solução de curto prazo). É uma liberdade com ordem, escolhas limitadas, usar a firmeza com dignidade e respeito. São frases comuns desse estilo parental: “Você pode escolher dentro dos limites que demonstrem respeito por todos” ou “Vamos pensar nas regras e soluções para os problemas juntos”

E ai? Encontrou seu estilo parental? Consegue perceber pontos positivos e pontos negativos em cada um deles? Quais frutos você vem colhendo agindo dessa forma com seus filhos? Gostaria de mudar e ter outra relação com seus filhos? Mudar seu estilo parental é quase como aprender um idioma completamente novo, segundo Jane Nelsen. Portanto calma e tenha compaixão por si mesmo nesse processo. Quase todos ao seu redor segue a sabedoria tradicional, aquela passada de uma geração para outra. Poucas pessoas compreendem o que é a parentalidade firme e gentil e você será julgado se resolver adotar essa forma de educar.

Você pode ter olhado para as descrições dos estilos parentais e não ter encontrado nenhum problema em educar seus filhos dessa maneira. Então vamos lá apontar algumas coisas para nossa reflexão. Para facilitar sempre se faça as seguintes perguntas: “O que estou ensinando com isso?” e coloque-se no lugar do seu filho e responda com sinceridade: “O que estou sentindo, aprendendo e decidindo a partir disso que aconteceu?”. Responder à essas perguntas te ajudará a saber se deve ou não mudar sua postura.

No estilo parental autoritário geralmente não consideramos os resultados em longo prazo das nossas intervenções. Esse tipo de parentalidade convida os filhos a pensar que tudo se resolve na força; evitar colaborar a menos que seja recompensado; manipular para obter recompensas cada vez maiores. A longo prazo podem tornar-se rebeldes ou muito submissos (obedecem a todos e nem sabem os motivos) ou ainda irresponsáveis (não precisam colaborar com nada pois tudo está sendo controlado e decidido pelos pais) e dependentes/viciados em aprovação, não aprendem as habilidades necessárias para fazerem suas próprias escolhas e tomarem decisões.

É claro que punição e rigidez interrompem o mau comportamento imediatamente, porém estudos já comprovam que a longo prazo os filhos podem adotar posturas de ressentimento (sensação de injustiça), retaliação e rebeldia (fazer exatamente o contrário para provar que não tem que fazer do jeito dos pais, sentimento de vingança), dissimulação (esconder o que faz para não ser pego pelos pais na próxima vez) e redução da autoestima. Será que é um bom investimento seguir por esse caminho?

Já no estilo parental permissivo os filos podem crescer com a idéia de que merecem ser tratados de forma especial pelos outros (mimados), rouba dos filhos o aprendizado de habilidades como autoconfiança e resiliência. Ao invés de aprender que podem sobreviver à dor e ao sofrimento e até aprender com eles, os filhos crescem extremamente egoístas, que têm direito a tudo o que quiserem. Também fica implícito para o filho de que ele não é capaz, uma vez que a gente sempre precisa correr para ajudá-lo a resolver os problemas.

Na negligência ensinamos que os filhos não são dignos de amor, não se sentem pertencentes e amados, acreditam que é culpa deles o fato dos pais não lhes darem atenção ou ainda podem assumir papéis que não lhes cabem (acham que é da responsabilidade deles cuidar dos irmãos ou até mesmo dos próprios pais). Sentem-se desamparadas e sem importância.

Já podemos perceber os efeitos do nosso estilo parental desde a primeira infância, mas talvez na adolescência é que tenhamos a sensação de caos total e de que nada mais pode ser feito para melhorar nossa relação com os filhos. Esse não é um momento fácil, porém nosso cérebro tem a linda capacidade de se modificar ao longo da vida. Se a relação com seu filho adolescente não vai bem, sempre há tempo de reparação. Se você se sentiu desconfortável ao ler esse texto, eu te dou parabéns. Quanto maior for seu desconforto, melhor será seu desempenho no caminho da mudança. Nada de culpa, apenas assumamos nossa responsabilidade no processo e ancorados no amor que sentimos pelos nossos filhos busquemos um caminho do meio, nunca nos esquecendo a autocompaixão ok?

Agora você pode estar se perguntando:“Ok, mas como eu faço para mudar meu estilo parental e melhorar a relação com meu filho?” Bem, isso será assunto para os próximos posts.

Referências

1. NELSEN, J.; LOTT, L. Disciplina Positiva para adolescentes. Uma abordagem gentil e firme na educação dos filhos. 3.ed.Barueri [SP]: Manole,2019.

2. NELSEN, J. Disciplina Positiva. 3.ed. Barueri [SP]: Manole, 2015.

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