Comportamento suicida na população idosa: a importância do estabelecimento de um plano de cuidados para a sua prevenção

Vamos conversar sobre comportamento suicida em idosos?

O risco de suicídio entre os idosos ainda é uma temática requer maior atenção por parte de diferentes segmentos sociais1. A cada quatro tentativas de suicídio nessa população, ocorre uma morte, sendo que, na população em geral, há cerca de 10 a 20 tentativas para cada óbito por suicídio2-4. Dessa forma, é importante se ter um olhar integral em relação ao suicídio na população idosa, com a compreensão de fatores presentes no processo de envelhecer que podem influenciar na prevenção do suicídio5-6.

A importância do estabelecimento de um Plano de Cuidados frente ao comportamento suicida

O estabelecimento de um plano de cuidados para o gerenciamento do comportamento suicida é fundamental para a promoção da saúde mental do indivíduo e deve considerar a importância da intersetorialidade, bem como a reavaliação periódica7. A seguir, apresentamos um “passo a passo” para elaboração de um Plano de Cuidados individualizado para o Comportamento Suicida nos Idosos8.

1. Estabelecer relação terapêutica, com comunicação e escuta acolhedora, empática e sem julgamentos, em um ambiente confortável e seguro, possibilitando a percepção de sinais de risco e o estabelecimento de ações direcionadas e eficazes;

2. Avaliar a presença de ideação, planos e outros fatores de risco para o suicídio, identificando, de maneira cuidadosa a presença de ideação suicida; frases de alerta (“seria melhor se eu não estivesse aqui”, “a vida não tem mais sentido”, “eu não aguento mais”); planos e acesso a meios letais; alteração importantes no padrão de comportamento, para promover um cuidado direcionado e efetivo. A literatura científica aponta que a entrevista clínica é importante para avaliar o risco de suicídio, entretanto, não existe alto poder preditivo nas avaliações e não há uma única forma de se avaliar o risco9.

3. Promover fatores protetivos, como bem-estar e esperança, identificando, junto ao paciente, recursos e redes de apoio presentes em seu dia a dia, e estimulando que o mesmo mantenha contato com suas pessoas/serviços de referência;

4. Estimular que o paciente reflita e reconheça suas emoções e necessidades e expresse como deseja ser apoiado em seu dia a dia, identificando também seus fatores protetivos individuais (religiosidade; pertencimento a um grupo/rede de apoio; relações saudáveis e positivas; e acompanhamento profissional);

5. Oportunizar momentos para conversar abertamente sobre o comportamento suicida e as percepções do paciente sobre as consequências da morte por suicídio;

6. Incentivar a busca do suporte profissional, oferecendo informações acerca dos locais que poderá encontrá-lo;

7. Encorajar o idoso a ter flexibilidade e abertura a novas experiências, como na participação de atividades terapêuticas individuais e grupais;

8. Discutir a importância do tratamento (que pode ser composto por diversas modalidades terapêuticas): sua relevância para a promoção e manutenção da saúde emocional, incentivando a adesão e participação;

9. Estimular a participação ativa do idoso no estabelecimento de seu tratamento, cuidados e demais tomadas de decisões importantes de sua vida, oportunizando o sentimento de valorização e de protagonismo;

10. Priorizar a segurança do paciente, estabelecendo a continuidade do tratamento, especialmente em casos em que o risco de suicídio se apresenta mais grave, evitando deixá-lo sozinho e restringindo o acesso a meios letais (como medicações potencialmente perigosas, objetos perfurocortantes, entre outros);

O plano de cuidados descrito acima, foi embasado no Exame Clínico Objetivo Estruturado (ECOE) construído para um cenário de simulação de alta fidelidade sobre a prevenção do comportamento suicida em idosos institucionalizados. Caso tenha interesse em conhecer mais sobre simulação, acesse nosso Post do Especialista “Simulação Clínica: Possibilidades para a formação profissional em Saúde Mental”.

Sugestões de materiais: materiais ou links que possam agregar o conhecimento do tema abordado na postagem:

Se interessou pela temática do nosso Post? Saiba mais sobre o comportamento suicida na população idosa através do Capítulo 2: comportamento suicida ao longo do ciclo vital e para conhecer os diferentes instrumentos utilizados para avaliar o risco de suicídio, acesse o capítulo 4 do Ebook Prevenção do Risco de Suicídio”: Um guia para profissionais de saúde.

Ebook Prevenção do Risco de Suicídio: Um guia para profissionais de saúde: https://inspiracao-leps.com.br/cartilhas-e-e-books/prevencao-do-risco-de-suicidio-um-guia-para-profissionais-de-saude/

Conheça as redes de suporte emocional disponíveis no Brasil através do Livreto de recursos de apoio em saúde mental:

Livreto Recursos de Apoio em Saúde Mental: https://inspiracao-leps.com.br/cartilhas-e-e-books/recursos-de-apoio-em-saude-mental-livreto-geral-ceps-2022/

Referências

1. Santos MCL, Giusti BB, Yamamoto CA, Ciosak SI, Szylit R. Suicide in the elderly: an epidemiologic study. Rev Esc Enferm USP. 2021;55:e03694. doi: https:// doi.org/10.1590/S1980-220X2019026603694

2. Ciulla L, Nogueira EL, Silva Filho IGS, Tres, GL, Engroff P, Ciulla V, Cataldo Neto A. Risco de suicídio em idosos: dados do programa de saúde pública brasileiro. J Affect Dis. 2014;152:513-6. doi: https://doi.org/10.1016/j.jad.2013.05.090

3. Stanley IH, Hom MA, Rogers CR. Understanding suicide among older adults: a review of psychological and sociological theories of suicide. Aging Ment Health. 2016;20(2):113-22. doi: https://doi.org/10.1080/13607863.2015.1012045

4. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Dia Mundial do Combate ao Suicídio: depressão entre idosos: precisamos falar sobre isso [Internet]. São Paulo: SBGG; 2016.

5. ALVES, R.M; NOGUEIRA, M.I.S; MACHADO, AN.K.C. Suicídio em idosos: determinantes psicossociais, riscos e prevenção. VI Congresso Nacional de Envelhecimento Humano, Paraíba, 2019. Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/cieh/2019/TRABALHO_EV125_MD1_SA2_ID2284_26052019225447.pdf

6. World Health Organization (WHO). Decade of healthy ageing: baseline report. Geneva: World Health Organization; 2020. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240017900

7. Conselho Federal de Medicina (CFM)/ Associação Brasileira de Psiquiatria. SUICÍDIO: INFORMANDO PARA PREVENIR [Internet]. Brasília, 2014. Disponível em: https://www.ufpb.br/cras/contents/documentos/cartilha-sobre-suicidio.pdf

8. Vedana KGG. Urgências e emergências psiquiátricas. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP/USP), 2020.

9. Veloso LUP, Silva Junior FJG, Martin IS, Vedana, KGG. Identificação do risco de suicídio e notificação dos casos. Capítulo 4, p. 57-73. In: Martin IS, Silva AC, Pedrollo LFS, Leocádio MA, Vedana, KGG. Prevenção do risco de suicídio: um guia para profissionais da saúde. Ponta Grossa – PR: Atena, 2022. Disponível em: https://inspiracao-leps.com.br/cartilhas-e-e-books/prevencao-do-risco-de-suicidio-um-guia-para-profissionais-de-saude/

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