Recomendações para o apoio a crianças que vivenciam o luto

O luto é um processo dinâmico que ocorre diante da perda de algo significativo. Envolve reações físicas, psicológicas, comportamentais, sociais e espirituais dos indivíduos. As crianças que vivenciam o luto, muitas vezes, possuem pouco espaço para falar sobre a sua perda e compartilhar seu sofrimento.

A compreensão da morte e do luto na infância varia de acordo com a sua idade, desenvolvimento cognitivo e grau de maturidade. Trata-se de um desafio afetivo e simbólico para a criança. Suas reações emocionais podem ser diferentes das reações em adultos, assim como a intensidade dessas reações. Crianças enlutadas podem apresentar tristeza, saudade, agitação ou irritabilidade, medo, ansiedade de separação e dificuldade para dormir. Além disso, as reações também podem ser influenciadas pela intensidade dos laços afetivos e pela dinâmica familiar antes e após a perda (1,2).

Até os 3 anos, as crianças têm a percepção da morte como ausência e falta da pessoa. Entre os 3 e 5 anos, a morte assemelha-se a um estado de sono. Nas fantasias típicas da idade, a criança acredita que pensamentos, desejos e palavras podem causar ou evitar a morte. Pode ocorrer sentimento de culpa diante da morte de pessoas queridas. Entre os 5 e 7 anos, a criança entende a morte como “irreversível” e “inevitável”; um estado em que todas as funções do corpo humano param de funcionar, mas só entre 10 e 11 anos, consegue ter uma compreensão da morte de forma mais abstrata, formulando hipóteses sobre a sua causalidade. (3,4)

Diante da perda e do luto, é essencial que a criança seja acolhida em seu sofrimento e que sua dor seja legitimada. Recomendações de apoio para a criança vivenciando o luto não são protocolares e devem ser direcionadas de acordo com as singularidades de cada criança, sensíveis a sua experiência. Algumas atitudes podem ajudar as crianças:

– Oferecer um ambiente e espaço para que possam expressar seus sentimentos, seja através do diálogo ou do brincar;

– Respeitar o tempo da criança, criando um ambiente acolhedor para que expressem suas dúvidas, culpas, raiva, angústias e medos, evitando os pactos de silêncio; diante da morte, é preciso que a criança se sinta confortável para se expressar;

– Promover uma comunicação honesta, clara e compassiva, com atenção especial a comunicação de notícias difíceis; é possível utilizar recursos lúdicos, como a contação de histórias;

– Manter uma rotina de cuidados com pessoas significativas para a criança;

– Conversar sobre os ciclos de vida tendo como exemplo a própria natureza;

– Narrar histórias familiares de superação e legado, transmitindo motivação e senso de propósito;

– Evitar colocações que potencializem seu desamparo, seus medos e culpas imaginárias e fantasiosas; é necessária uma abordagem flexível, prudente e protetora. (1,2,4,5)

No atual contexto da pandemia pela COVID-19, as crianças estão mais vulneráveis ao contato com o sofrimento e vivenciando o medo de morrer ou da morte de pessoas que amam. Diante do questionamento das crianças sobre a morte ou morrer, as famílias podem considerar este momento como uma oportunidade para compartilharem crenças sobre o significado da vida e discutir a perspectiva espiritual da família. As famílias podem perguntar à criança sobre seus medos ou esperanças e tranquilizá-la com informações claras e que atendam suas necessidades, criando uma sensação de segurança (2, 5, 6).

Sugestões de materiais:

Pediatria para famílias. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Dor e Medicina Paliativa. Luto infantil. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/desenvolvimento/luto-infantil/

Referências

1. Torres WC. A criança diante da morte: desafios. São Paulo. Casa do Psicólogo, 2012

2. Sociedade de Pediatria de São Paulo. Departamento científico de saúde mental da SPSP. COVID-19: a criança diante da doença, morte e luto em tempos de pandemia. 2020. Disponível em: https://www.spsp.org.br/PDF/SPSP-DC%20Sa%C3%BAde%20mental-Covid%20e%20luto-02.10.2020.pdf

3. Kovacs MJ. Morte no processo do desenvolvimento humano. A criança e o adolescente diante da morte. In: Kovacs MJ. Morte e desenvolvimento humano. 5ª ed. Casa do Psicólogo, 2010.

4. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Dor e Medicina Paliativa. Luto infantil. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/desenvolvimento/luto-infantil/

5. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Medicina da Dor e Cuidados Paliativos e Departamento Científico de Bioética. COVID-19 e as nossas vidas – pandemia, cuidados e crise humanitária cuidados paliativos e reflexões bioéticas. 2020. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22678b-NA_-_Covid_e_Nossas_Vidas_-Cuidados_Paliativos.pdf

6. Weaver MS, Wiener L. Applying palliative care principles to communicate with children about COVID-19. J Pain and Symptom Management 2020; 60(1):E8-E11 DOI: https://doi.org/10.1016/j.jpainsymman.2020.03.020

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